sexta-feira, 10 de junho de 2011

Na Terra De Lilipute. Parte 1


Guliver, criação de Jonathan Swift era um marinheiro que entre muitas viagens chegou na distante terra de Lilipute onde junto a seus minúsculos habitantes tornava-se um gigante. Estes pequenos habitantes assustados com o gigante deitado sobre as areis da praia, armaram uma estrutura gigantesca gastando todas as horas de uma noite para aprisionar Guliver enquanto dormia. A criança é como este minúsculo habitante de Lilipute numa terra de gigantes. Ela vê o mundo desproporcionalmente grande. Meu filho até hoje lembra da dificuldade de acompanhar nossos passos, meus e do pai, quando caminhávamos juntos...Enquanto caminhávamos, ele corria (!)

Se imaginarmos nos deslocar na casa de um gigante, seremos capazes de imaginar as dificuldades que nossos Liliputianos têm ao deslocarem-se em casa: a privada é enorme e com o poder de tudo carregar...A mesa é alta demais, os trincos das portas inescaláveis, as pias, um desejo distante...Tudo é enorme para criança, nada foi feito para ela.

Nosso horizonte é amplo, o da criança focal. A criança percebe detalhes no chão, numa calçada, nos livros, nos objetos, nas minúcias que a cercam, enquanto nós adultos olhamos na amplitude do horizonte. A criança, em casa, quase nada pode alcançar, o mundo não foi feito para elas. Mas não é apenas o mundo que é desproporcionalmente grande, há todas as coisas que são proibidas, como as máquinas sem contar os sem número de objetos que não pode tocar, não pode quebrar. Além de todas estas dificuldades ainda existem as regras sociais a serem obedecidas.

Estimular a inteligência é dispor para a criança o “que PODE” tocar, pegar, mexer...Chamá-la a participar, assistir, ver, ajudar quando possível. Mesmo os muito pequenos, com três ou quatro anos, podem ajudar a mexer a massa de um bolo, enrolar um brigadeiro, varrer um pedaço da varanda, lavar o chão da cozinha, assistir o conserto de algo... Seria útil explicar-lhes as máquinas, suas funções e seu funcionamento. Para tudo isto precisamos ter o espírito pedagógico, pois certamente a “ajuda” da criança é vista pelo adulto como “atrapalhar” a sua ação.

Meu pai presenteou meu filho, quando ele tinha cerca de dois anos, com um sólido banco para a casa dele (do avô) e uma sólida cadeirinha para minha casa. Mais tarde entendi que ele havia dado ao meu filho o MEIO de alcançar o mundo, acessar uma nova dimensão de todas as coisas. Guardo até hoje esta cadeirinha como o símbolo de uma das mais importantes compreensões que tive do processo pedagógico.
Estar com a criança é entrar no mundo das minúcias, do focal, do pequeno, é preciso sentar no chão e tentar ver este outro mundo, alheio a tudo que rodeia. Trazer a criança para o mundo do adulto é dar-lhe acesso ao inacessível, quando isto não for “contra as leis” definidas pelos pais e também não seja perigoso para a criança.

Um comentário:

Daniel Silvio disse...

Acho que desde a tenra idade o indivíduo deve ser preparado para sua convivência no mundo. Sentir-se útil e amadurecer (sempre de acordo com sua estrutura cognitiva, claro)para que, no final das contas, torne-se independente no mais alto conceito da palavra.