sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Entre o que eu desejo para meu filho e seu futuro efetivo



Entre o que eu desejo para meu filho e seu futuro efetivo

Dra Adriana Oliveira lima


Embora estejamos imersos numa sociedade com um sistema de valores definido que exerce considerável pressão sobre nós, cada indivíduo ou grupo (família, comunidade) vai absorver com maior ou menor intensidade este sistema. Embora o sistema seja social ele se manifesta e se realiza no contexto do indivíduo - não existe culpa coletiva, cada indivíduo responde individualmente por seus atos.

A reflexão subjetiva tem um papel fundamental na organização moral, formando a personalidade de cada indivíduo. Piaget diz que o conhecimento, portanto os sistemas de moral e valores, são construções individuais.

Na educação das crianças o objetivo dos pais deve centrar-se nas ações capazes de realizar esta construção do conhecimento e da moral, tendo como fundamento o exemplo, o discurso e principalmente as ações dos pais, dos educadores e da própria criança (Tomada de Consciência).

Mas como saber os rumos de nossas ações quando nosso objetivo frequentemente acaba não sendo aquele que havíamos idealizado inicialmente? É neste contexto que aparecem as idealizações que os pais fazem em relação aos filhos e aos resultados que buscam obter no processo educativo. Aqui começam nossos problemas.

Um dos primeiros problemas que aparece nesta busca por resultados é a compreensão do tempo. Os pais tendem a querer resultados em tempo recorde.  Às vezes nem sequer semeiam este futuro. Revelam um pensamento mágico onde o fruto colhido não precisou ser semeado ou cuidado.

Os pais precisam ter consciência que o modo de execução da sua vida cotidiana está levando a objetivos determinados.

Um segundo conjunto de problemas consiste em ter objetivos de natureza diferente das escolhas que fazem para construção dos mesmos. Quero um filho criativo, mas a pratica da criança esta inserida em sistemas de repressão contínua. Quer um leitor, mas não adquire livros para ele. Quer uma pessoa íntegra, mas corrompe as regras na frente da criança.

Na internet observa-se um sem numero de discursos revolucionários para formação humana por parte de pais que tem seus filhos nas escolas mais tradicionais, fortalecendo o que há de mais atrasado. O mais triste é que esses mesmos pais sentem-se felizes com suas escolhas. A inteligência é o bem mais bem distribuído na Terra, todos estão satisfeitos com o que tem.

Enfim, os pais precisam analisar que valores dirigem suas vidas, que objetivos desejam alcançar e preparar-se para um esforço de mudança quase hercúleo, pois a sociedade o empurrará continuamente para o tradicional, para o ultrapassado.

Navegar e preciso e há mares nunca antes navegados.
 

terça-feira, 31 de março de 2015

O Obscurantismo de 30 anos ou A Falta Estarrecedora De Quadros Técnicos.



O Obscurantismo de 30 anos ou A Falta Estarrecedora De Quadros Técnicos.

Dra Adriana Oliveira Lima



Enquanto a ditadura militar ainda estendia seus tentáculos sobre a sociedade brasileira, o complexo USP, UNICAMP e PUC-SP ditavam todo um “sistema de verdade“ que extirpariam todas as ideias educacionais alternativas do tecido social. Como um gigantesco coador, ele foi “limpando” e devastando a educação brasileira.
A UNICAMP teve Moacir Gadotti como expoente de uma tendência que representava Paulo Freire. Paulo Freire, no entanto, era independente demais para os blocos criados nas estruturas do poder sobre o sistema que pretendia ditar o que era bom e o que era mal na educação e na sociedade. Paulo Freire sequer conseguiu sobreviver na Secretaria de Educação de São Paulo.
Demerval Saviani foi um dos grandes gurus destes tempos nefastos. A formação de educadores foi transformada em uma concepção de tendência mais acadêmica, baseada na teoria. Qualquer proposta que considerasse importante as metodologias no processo educativo foi execrada. Ora, como a pesquisa em educação esta mais afeita às metodologias e aos processos mentais do conhecimento para poder efetivar mudanças em sua qualidade, estes anos perdidos em discussões teóricas foram nefastos. Perdemos mais de 20 anos estudando o “processo de reprodução social da educação”, ou como a burguesia reproduzia um sistema para manutenção do seu poder ”e outras balelas de Bourdier e seu pares.
Quem falasse em metodologias era taxado de tecnicista, titulo que parecia horroroso de ser ostentado. Os estudos voltavam-se, durante estes obscuros anos, para teorias em bibliografias estrangeiras, gerando um estrangeirismo acadêmico de dar dó.
Aqueles que acham que o construtivismo adentrou as escolas brasileiras são tacanhos e sequer têm ideia sobre o que se passa nas salas de aula. Chamam de construtivismo a decadência educacional brasileira oriunda de uma concepção medíocre baseada em baboseiras sociológicas sem qualquer preocupação com a pratica pedagógica.
Neste quadro, onde estudar Gramsci era mais importante do que desenvolver métodos para alfabetizar pessoa reais; onde conhecer as teorias de Bourdier dava mais prestigio que o ensino da matemática, se produziu o estado estarrecedor de mediocridade em que vivemos.
Não temos quadros de educadores. Não temos propostas. Os jovens formados nesta mediocridade acham que sabem tudo e não buscam na historia as alternativas para o futuro. Os sábios estão velhos demais. Um rombo, um buraco de formação. Uma implicância imatura e ignorante contra as poucas iniciativas de construção pedagógicas.
Nosso novo ministro, em pleno ano de 2015, representa o que há de mais atrasado na educação: colocar alguém que não é educador e que representa justamente esta concepção tacanha que enxerga a educação como mero instrumento político-social.


PS. Um estudo profundo das teses aqui descritas estão em minha tese de PhD “Intelectuais, Poder e Conhecimento”. Disponível nos arquivos da UFRJ na língua inglesa.