domingo, 8 de agosto de 2010

Mordaças e Palmadas - Lia Luft


Este é um pequeno segmento do artigo de LIA LUFT publicado na veja.
Esta postagem visa ampliar as visões e interpretações.

Mordaças e palmadas
Lya Luft Veja - 02/08/2010

(...)
"Outro tema, agora atualíssimo, é a interferência em assuntos tão pessoais quanto a educação dos filhos. A mim o tema "palmada" parece um pouco ridículo, num momento de eleições iminentes. quando precisamos estar sérios, lúcidos, focados no assunto "quem vai nos governar nos próximos quatro anos. Como, com que ideias e meios". Crianças e jovens. filhos em geral, já são protegidos por leis suficientes. Se elas não forem respeitadas, e sua quebra não for punida, não vai adiantar nada inventar novidades. Vamos aplicar e vigiar o que já existe. E não acho que o "projeto palmada" funcione sem grande confusão. Primeiro problema, o do controle: quem vai denunciar pai ou mãe que derem palmada (e não pode nem aquela branda, carinhosa chamada de atenção por cima da gorda fralda): o vizinho intrometido, a vizinha invejosa. a babá em aviso prévio. a comadre neurótica, a sogra chata, o ex-cônjuge vingativo? Eu gostaria de saber, só para começar, quem vai lidar com a avalanche de denúncias loucas. injustas e irreais que vão atravancar delegacias, postos de polícia e semelhantes.

Violência às vezes se justifica, sim, como para controlar violência, segurar alucinados, prender bandidos, dominar violentos assassinos. Mas nem mesmo violência verbal deveria reinar nas famílias: um insulto pode doer bem mais do que um tapa, brigas entre os pais fazem mais mal do que uma palmadinha, acreditem. Então, o conceito de que violência em casa é negativa e tem de ser punida já existe. Basta aplicar as regras e leis. Mas a tal lei da palmada, me perdoem: parece-me irreal, inexequível, geradora de muita confusão e de indevidas intromissões no lugar que deveria ser o mais nosso, o mais pessoal. nosso refúgio, nosso reino, nosso santo dos santos: a casa, a família, o lar.

Mas como as coisas entre nós. e neste vasto mundo, andam mais para confusão e doideira do que para lucidez e serenidade, como estamos mais violentos, policialescos, alucinados, assustados e assustadores do que firmes, elegantes, sábios, pacíficos e ordenados, tudo pode ser ser esperado, tudo é possível, e vamos nos habituando a viver na estranheza, na esquisitice, protegendo-nos como podemos de atos, fatos e idéias bizarros."

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