domingo, 15 de agosto de 2010

LINGUAGEM: A FALA




A criança acompanha sua ação com fala.
Diferente dos macacos, nas crianças, por volta de 2 anos, aparece a Função Semiótica. Para Piaget, superando Vigotsky e a psicologia clássica, ela se constitui como a capacidade de representação (característica tipicamente humana) onde a fala vai aparecer como um dos seus aspectos mais visíveis. A Psicologia clássica acreditava na linguagem sendo pensamento. Piaget vai mostrar que é relação e que existiria, inclusive, um “pensamento sem linguagem”.
A ação da criança agora (por volta dos 2 anos) será "acompanhada da fala" o que caracterizará para Vigotsky, por exemplo, o “tipicamente humano" ou as "funções superiores do homem". Também Piaget encontra esta fala acompanhando as ações. Vigotsky dirá que não se trata de simples descrição da ação, mas de uma função psicológica complexa e que quanto mais complexa é a ação maior é a importância da fala.
Para nós educadores é essencial a compreensão deste fato, pois a tentativa de fazer parar a fala da criança pode ser não apenas inútil (fracasso no pedido de silêncio) como, e principalmente, provocar a "paralisação" da ação da criança (sucesso no pedido de silêncio). Ora, sem a permissão da fala a criança pode simplesmente não resolver os problemas propostos.
Por outro lado, o uso espontâneo da fala nesta idade (pré-escolar) leva a criança a construir os instrumentos básicos do planejamento de suas ações, pois ela torna-se capaz de "irradiar" suas tentativas aproximando-se mais e mais de um plano prévio para sua ação.
No plano do desenho ocorrerá o mesmo, as crianças muito pequenas precisam antes desenhar para depois dizer o que desenharam. Como os macacos de Koeler, elas são escravas do contato visual. Ao crescerem um pouco mais serão capazes de dizer o que vão desenhar e efetivamente fazê-lo. Aqui, novamente, é mostrada a função planejadora da fala.
Jean Piaget mostrará, para além desta função, a capacidade, por meio das representações, de distanciar-se mais e mais do objeto no espaço e no tempo, o que constitui a capacidade simbólica do homem.
A pré-escola, pois, não poderá ser um lugar de enfileiramento, de silêncio, de tirocínio... deverá ser um espaço em que a fala possa desenvolver-se por seus exercícios naturais e o corpo possa acompanhar estas manifestações com movimentos harmônicos. Estudos recentes têm mostrado um "balbucio" gestual antes mesmo do aparecimento da fala, mostrando uma linguagem gestual pelos ritmos dos movimentos dos bebês. Não é possível, pois, uma escola sem estímulo à ação e à fala que acompanhará naturalmente esta ação.

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