Embora eu tenha criticado
duramente os professores descompromissados com a educação, minha experiência
foi, quase sempre, povoada de pessoas envolvidas em sua profissão, com sede de
saber, estudando e discutindo a educação na prática diária. É preciso defender
mesmo toda esta categoria de profissionais que tem em suas mãos grande parte do
futuro de uma nação.
O Brasil tem quase 2 milhões
de docentes na educação básica, da educação infantil até o ensino médio. Esse
contingente de profissionais é responsável por mais de 52 milhões de alunos. É
incrível a melhora na formação deste contingente, diminuindo o contingente sem
diploma superior nas escolas de educação básica do país. Hoje, eles representam
25% do total, sendo que antes, em 2007, somavam mais de 30%.
Quanto ao salário, o Ministério
da Educação divulgou o novo valor do piso salarial nacional para os professores
de educação básica em R$ 1.451. O novo valor se refere ao
mínimo que deve ser pago para professores com jornada semanal de
trabalho de 40 horas.
Como ilustração, citaremos
alguns profissionais melhor remunerados que exigem níveis de formação menores
que um professor: A Prefeitura do Rio anunciou um pacote de benefícios para os
servidores da Guarda Municipal e para funcionários da Comlurb (limpeza urbana). Um
piso salarial no valor de R$ 729,58 com um plano de carreira garantindo aumentos
a cada dois anos. Um gari com mais de 10 anos de serviço, por exemplo, terá
23,20% de aumento. O tíquete-refeição destes servidores, com o
aumento de 2012, de 33%, subiu de R$ 9 por dia para R$ 12, alcançando um total
de R$ 360 por mês.
Associações ligadas ao Corpo
de Bombeiros do Rio de Janeiro vão apresentar reivindicações de um piso
salarial de R$ 2.900 para a categoria e também para policiais militares. Um
bombeiro no Brasil ganha aproximadamente entre 1.220 e 3.500 (Brasília).
Nem precisamos citar a
aberração do dinheiro gasto com a câmara federal, onde levantamento feito pela
ONG Transparência Brasil revelou que
o Congresso Nacional tem o custo mais alto para a população em comparação com parlamentos
de 11 países. De acordo com o estudo, o congresso brasileiro gasta R$ 11.545,04
por minuto com os 513 deputados e 81 senadores. http://www.youtube.com/watch?v=fU8W79GmgSc
Fosse apenas o salário talvez
fosse mais fácil tentarmos mudar esta realidade, mas existem muitas outras
questões. Entre elas, está a questão do desrespeito ao professor. Houve um dia
em que ao entrar em sala o professor era recebido pelos alunos de pé com um
sonoro BOM DIA! Houve um tempo em que as palavras do professor tinham valor
inestimável para os pais. Houve um tempo em que o professor era respeitado
socialmente.
Hoje quase 20% dos professores
da rede básica de ensino do estado de São Paulo sofrem de depressão. O dado foi
revelado pelo levantamento A Saúde do
Professor na Rede Estadual de Ensino, feito pela Apeoesp (Sindicato dos
Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) em parceria com o Dieese.
(http://noticias.r7.com/educacao/noticias/quase-20-dos-professores-de-sao-paulo-sofrem-de-depressao-20121002.html)
Deprimidos, cansados e sem
esperanças, muitos professores não conseguindo migrar para outras profissões e terminam
tentando licenças infindáveis.
Além das más condições de
trabalho e baixos salários, enfrentamos agora um escandaloso desrespeito da
parte dos próprios pais que autorizam a agressividade dos filhos em sua relação
escolar.
São ameaças contínuas das
comunidades e dos alunos. Não tem idade. Uma criança de 8 ou 9 anos pode
ameaçar um professor ou demonstrar insatisfação por seus desejos frustrados.
Pais imbuídos de um estado de recursos aproveitam-se da fragilidade da educação
para descarregar penas e dores de suas frustrações da vida cotidiana. Vão
facilmente às delegacias e abrem processos. Reclamam e constrangem professores
e escolas sem medida ou bom senso.
Adolescentes ou mesmo crianças
insistem em andar com celulares na escola com a autorização dos pais que
certamente não aceitariam ser vigiados em suas profissões por crianças e
adolescentes. Mas os professores podem sofrer todo tipo de constrangimento.
Escândalo na porta da escola, agressividade nas secretarias, recados desaforados
através das crianças...
Hoje, ser professor é um ato
heroico.
Como mudar esta realidade?
Que seja tudo isso já o fundo
do poço, para começarmos a reconstruir uma profissão e como fênix, ressurgirmos
das cinzas.
Dra Adriana Oliveira Lima
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