(artigo publicado no Jornal O POVO)
"A
única pessoa realmente cega na época de Natal é aquela que não têm o Natal em
seu coração."
Helen Keller
O mito é uma construção narrativa reconhecida pela coletividade numa
sociedade. A consolidação social do mito é que lhe confere credibilidade. O
MITO é explicativo, seja de algo que existe, seja de suas origens (a origem das
estrelas, da mandioca, etc.). Ele também é um fator organizador da vida social
por meio de permissões e proibições, prêmios e castigos. Assim, o mito é
acomodador e estabilizador da vida social.
Misturando-se os mitos às religiões, eles acabam antropologicamente explicando
como uma sociedade entende a sua própria existência. Mas ele é um elemento da
cultura extremamente complexo. O caráter “sagrado” e a tendência a explicar os
“começos” terminam por encantar e aprisionar os homens.
Papai Noel é um mito que nos aborda e nos invade, organizando
sistematicamente o mundo ocidental. Não importa que o ataquem, associando-o à
sociedade de consumo, porque ele a supera e busca, para além do consumo, o ato
de “bondade” entre os Homens.
O personagem foi inspirado em São Nicolau, arcebispo turco que
costumava ajudar, anonimamente, quem estivesse em dificuldades financeiras. Sua
transformação em símbolo natalino ocorreu na Alemanha e daí correu o mundo.
Do ponto de vista psicológico e antropológico, Piaget mostra que todas
as culturas narram mitos e precisam deles como instrumento organizador. As
crianças precisam acreditar nos mitos para organizar as leis, as regras e
compreender o mundo em que vivem.
O Papai Noel desempenha este papel forte da mitologia, que agrega as
crianças em suas necessidades de mitos e os adultos na busca do perdão, da
integração e da tentativa de ser “bom”. O mito é desconstruído pela criança
conforme vai crescendo sua capacidade de percepção dos processos de justiça e
mentira. Entretanto, de imediato, ela se agrega ao outro grupo que preserva a
ideia da bondade.
UM FILME:
A felicidade não se compra
Frank Capra
Na pequena
Bedford Falls, no Natal, George Bailey (James Stewart) pensa em se suicidar.
Embora tenha dedicado sua vida a ajudar os outros trazendo benefícios à sua
cidade, ele sempre pensou estar abrindo mão de seus sonhos, o que o leva a uma
profunda depressão. Com a ajuda de um anjo, George faz uma tomada de
consciência sobre sua existência e dos que o cercam. O filme é lindo e
emocionante. O “espírito do Natal” esta presente, fazendo do filme uma
oportunidade para todos nós repensarmos nossas vidas e o que temos de
maravilhoso nos cercando.
Bem
apropriado para esta época de festas.
UM LIVRO:
Um Conto de
Natal
de Charles
Dickens, 1843
Scrooge é um
homem avarento que detesta o Natal. Vive só, em seu escritório em Londres. Na
véspera de natal ele recebe a visita de Jacob Marley, seu ex-sócio que já
morrera. Marley diz que ele pode encontrar a paz através dos espíritos dos
natais que o visitarão (passado, presente e futuro). As visitas dos três
espíritos se sucedem.
Scrooge
conhece a face da ignorância e da miséria e a possibilidade de compreender o
“espírito de Natal”.
Nada mais
popular no Natal do que este conto de Dickens. Filmes como Expresso Polar,
Shrek, a Disney com o Tio Patinhas e até a Barbie usaram este enredo. É um
pequeno livro, um clássico que merece ser lido particularmente neste período em
que planejamos mudar comportamentos e fazer novos pactos de vida.
"O
Natal é um tempo de benevolência, perdão, generosidade e alegria. A única época
que conheço, no calendário do ano, em que homens e mulheres parecem, de comum
acordo, abrir livremente seus corações."
Charles
Dickens