terça-feira, 19 de julho de 2011

IMPASSES NA APRENDIZAGEM

Maria das Graças Soares
Psicanalista.



Para Piaget a aquisição do conhecimento se dá pela via dos processos de equilibração e desequilibração, caminhos que levam à assimilação do conhecimento pela criança.
Tais processos na rotina de um aluno seriam naturalmente simples não fossem as contingências que afetam a relação sentir/pensar no sujeito.
Um número considerável de crianças na idade escolar apresenta dificuldades no processo de aprendizagem, cuja solução mais comum que os pais e educadores encontram é o reforço escolar, que sem alcançar as causas mais plausíveis desse transtorno, não passa de um paliativo, além de sobrecarregar a já tão pesada rotina que as crianças de hoje são submetidas.
As dificuldades de atenção e conflitos no relacionamento com colegas e professores são diagnosticados pelos profissionais da saúde como “déficits”, onde prevalece hoje o diagnóstico generalizado de TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, negligenciando-se a singularidade de cada um.
Portanto, salvo as crianças autistas e aquelas que sofreram algum tipo de danos cerebrais, o referencial orgânico e/ ou neurológico deve ser excluído no tratamento dos distúrbios de aprendizagem.
A visão organicista dessa problemática deve dar lugar à concepção da família como uma estrutura na cultura, da qual a criança faz parte.
Tomar a família como uma estrutura implica necessariamente em atribuir “lugares” que serão ocupados por seus componentes. E aqui entra a questão do desejo em sua relação com a linguagem e a lei. Lei intimamente relacionada com a função paterna, que irá operar no sentido de determinar um lugar para cada um na estrutura: lugar do pai, lugar da mãe e lugar do filho. Aqui já entramos no universo simbólico, onde as relações de parentesco tem lugar. O pai – através de seu discurso e lugar no desejo materno, é quem faz a função de atribuir e assegurar o lugar de cada filho na estrutura. Isso faz parte da tão conhecida função paterna.
Se essa função claudica demasiadamente, os membros da família podem ficar à deriva, e a criança , freqüentemente, lança mão do sintoma como defesa. Sintoma que pode surgir sob várias identidades: déficits, agressividade, hiper-atividade e outros tantos, aqui inumeráveis.
Enfim, impossível de esgotar tais questões em tão poucas linhas vou concluir, lembrando que, freqüentemente os problemas de aprendizagem no escolar tem origem na dinâmica familiar e nele está implicado uma recusa inconsciente da criança pelo saber. Toda ela, nesse ponto do seu desenvolvimento, nutre naturalmente, como bem o disse Freud, um ímpeto pela investigação intelectual, uma curiosidade inata, só contrariada pelas contingências no seio da família.

2 comentários:

Rodney Soares Bezerra disse...

Ótimo artigo!

Anônimo disse...

Esclarecedor e bastante clínico. Excelente!
Ivna Borges