Educação: um investimento Invisível- parte 2
Dra. Adriana Oliveira Lima
Pergunto-me, então, o que
a escola ensinou por estes longos anos. Que critérios movem os pais a repetir
compulsivamente esta experiência intolerável, obrigando os seus filhos a
cumprir os mesmos rituais por eles realizados. Eu me pergunto por que os pais
não veem o futuro, não percebem as dificuldades que enfrentarão, no mundo de
hoje, ao jogar seus filhos como uma boiada em meio as multidões.
Às vezes os pais me dizem que deu certo
com eles (?).
Então
pergunto: Qual o critério de dar certo? Não seria desejável que meu filho fosse
além de mim? O estado em que cheguei
será suficiente para o futuro, o mundo do meu filho? O que era importante para
mim será para ele?
Pergunto
ainda: Qual a proporção entre os “X” que deram certo e a maioria que não deu?
Não seria você uma exceção num sistema educacional bastante perverso?
Poderia
ainda perguntar: O mundo hoje é tão diferente do que foi, tanto a forma de
veicular informação quanto as próprias exigências da sociedade, os valores. Poder-se-ia
resgatar uma educação de um passado tão diverso? Ou ainda: A educação que estou
dando ao meu filho é a mesma que recebi? As crianças hoje são mais “mimadas”
(menos reprimidas), ouvidas, acompanhadas. Será que o sistema que me educou
responde ao que desejo para meu filho?
Entretanto como educadora
o que me pergunto de fundamental é por que a educação permanece um dos mais
reacionários setores sociais. Como o cinismo das escolas de proporem salas de
aula com 30/40 crianças ou jovens confinadas não são percebidas pelos pais. Eu
me pergunto, e este foi o móvel dos meus estudos, porque a educação resiste
tanto a qualquer mudança.
Ensinar é a arte de
seduzir. Precisa-se convencer o sujeito a querer aprender. Não adiantam
repetições e castigos, tem-se que instalar o desejo, a vontade de saber. O
aumento assustador do volume de informações impõe novas formas de educar e
exige outras performances do educando, ou seja, hoje é mais importante
inteligência e cultura que mera informação escolar.
A corrupção dos vestibulares encobre o
grande fracasso da educação brasileira, pois deixa os pais tão envolvidos com
este exame (que por sinal um aluno inteligente e culto acessa uma universidade
com um ou dois anos de estudos) que não percebem o engodo de quase 15 anos de
investimentos na educação do filho. Ora, as universidades foram feitas para as
classes médias e altas e portanto, passar no vestibular é apenas questão de
tempo.
Entretanto, se são os pais que
corroboram o fortalecimento deste sistema, eu estou convencida que os elementos
internos da escola são incapazes de promover esta mudança, como os fatos têm
mostrado ao longo dos anos. Desta forma é que os pais, surpreendentemente,
serão os mais revolucionários aliados para as reformas necessárias ao sistema
educacional brasileiro ainda sobrevivente, por mais de quinhentos anos, com os
modelos jesuítas de educação. Os pais, de fora da escola podem pressioná-la.
Acredito também que outro fator exógeno, como a internete, o novo modelo de
informação, questionará a escola de fora para dentro...
Todas as mudanças são difíceis e uma
minoria carrega o fardo de realizá-las sendo por muito tempo pioneiros neste
processo. Muitas vezes nos sentimos cansados em lutar contra as “maiorias”, muitas
vezes queremos desistir sucumbindo sob as pressões da alienação, outras vezes
sentimos cansaço para explicar. As lutas pela educação não são fáceis, mas ao
vermos os enormes contingentes de incompetências produzidas anualmente por esta
educação . São médicos, engenheiros, arquitetos, advogados, um
contingente gigantesco de incompetências profissionais formadas por nossas
universidades.
E ai temos uma vontade de desistir. Mas
não podemos pois o futuro do país pode depender
em alguma parte do que formos capazes de fazer, de nossos esforços rumo as
mudanças..
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