A idéia de infância só se
estabelece muito tardiamente na história da humanidade. Não havia violência
contra a criança porque simplesmente não se distinguia infância de idade
adulta. Um dia estabeleceu-se esta distinção e mais tarde as leis de proteção as
crianças. Estabeleceu-se a idéia de menoridade e maioridade, e responsabilidade
civil. Mais adiante se estabeleceu a terceira idade, a idéia do idoso e suas
características próprias.
Não vou me alongar nestas
características, uma vez que elas já são arroladas na medida em que se definem
estes cortes. Queria assinalar aqui um tema interessante para discutirmos: como
estes cortes tornam-se tênues e estas idades parecem confundir-se nos dias atuais
e parecemos voltar no tempos.
Crianças participam de tal
forma da vida adulta, opinando, desrespeitando, obtendo seus desejos sem
frustrações, e em contrapartida a sociedade clama pela diminuição da idade de
responsabilidade civil, pedindo até mesmo o confinamento, enquanto os pais
abandonam cada vez mais os seus filhos na adolescência.
Crianças “mal educadas” que
falam de forma grosseira com os pais, ordenam de maneira imperativa as ações
dos adultos, vivem “grudadas” em tecnologias (que afinal não desenvolvem as
capacidades cognitivas e sociais a contento)são expostas a vida adulta
descontroladamente.
Os jovens imaturos, como
consequência desta infância desviante, se tornam egocêntricos, pois não sabem
lidar com as suas frustrações, violentos (incluem-se a violência do bullying,
das torcidas, das drogas), egoístas e incapazes de boa convivência social.
Os adultos, inseridos neste
contexto, permanecem com uma dificuldade grande de ouvir críticas e de aceitar
qualquer coisa que não seja a satisfação de seus desejos. Tratam os pais
duramente e acreditam saber tudo, não movimentam-se em direção a mudanças por
estarem absolutamente satisfeitos consigo mesmos.
Por fim os idosos veem-se
misturados neste contexto numa sociedade despreparada para assimilá-los. Sua
natural características de fácil depressão, irritações, ausências e outras
características não são entendidas nem auxiliadas pelos mais jovens que
despreparados quase os abandonam.
Fico pensando que toda esta
desordem sociológica começa na indefinição dos papéis familiares, nas fraquezas
de pais inseguros que não distribuem os papeis com competência, na falta
efetiva de limites impostos as crianças desde muito cedo. Paralelo a isso
existe também a incompetência do processo educativo que não logra a superação
do egocentrismo das crianças até os cerca de 9 anos e o pleno desenvolvimento
das estruturas e funções sociais que deveriam ser adquiridas na adolescência.
Um comentário:
Muito pertinente esse texto, e vejo diariamente essas características de falta de limite, grosserias e ofensas tanto nos bebes que muitas vezes observamos batendo nos pais e eles achando "bonitinho", como nos adultos que se internam em centros de tratamento que perderam completamente a noção de respeito e vergonha. Será que esse adulto não foi o bebê "bonitinho"...
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