sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Ainda precisamos de Papai Noel

Dra Adriana Oliveira
(artigo publicado no Jornal O POVO)



"A única pessoa realmente cega na época de Natal é aquela que não têm o Natal em seu coração."
Helen Keller


O mito é uma construção narrativa reconhecida pela coletividade numa sociedade. A consolidação social do mito é que lhe confere credibilidade. O MITO é explicativo, seja de algo que existe, seja de suas origens (a origem das estrelas, da mandioca, etc.). Ele também é um fator organizador da vida social por meio de permissões e proibições, prêmios e castigos. Assim, o mito é acomodador e estabilizador da vida social.

Misturando-se os mitos às religiões, eles acabam antropologicamente explicando como uma sociedade entende a sua própria existência. Mas ele é um elemento da cultura extremamente complexo. O caráter “sagrado” e a tendência a explicar os “começos” terminam por encantar e aprisionar os homens.

Papai Noel é um mito que nos aborda e nos invade, organizando sistematicamente o mundo ocidental. Não importa que o ataquem, associando-o à sociedade de consumo, porque ele a supera e busca, para além do consumo, o ato de “bondade” entre os Homens.

O personagem foi inspirado em São Nicolau, arcebispo turco que costumava ajudar, anonimamente, quem estivesse em dificuldades financeiras. Sua transformação em símbolo natalino ocorreu na Alemanha e daí correu o mundo.

Do ponto de vista psicológico e antropológico, Piaget mostra que todas as culturas narram mitos e precisam deles como instrumento organizador. As crianças precisam acreditar nos mitos para organizar as leis, as regras e compreender o mundo em que vivem.

O Papai Noel desempenha este papel forte da mitologia, que agrega as crianças em suas necessidades de mitos e os adultos na busca do perdão, da integração e da tentativa de ser “bom”. O mito é desconstruído pela criança conforme vai crescendo sua capacidade de percepção dos processos de justiça e mentira. Entretanto, de imediato, ela se agrega ao outro grupo que preserva a ideia da bondade. 

UM FILME:
A felicidade não se compra
Frank Capra
Na pequena Bedford Falls, no Natal, George Bailey (James Stewart) pensa em se suicidar. Embora tenha dedicado sua vida a ajudar os outros trazendo benefícios à sua cidade, ele sempre pensou estar abrindo mão de seus sonhos, o que o leva a uma profunda depressão. Com a ajuda de um anjo, George faz uma tomada de consciência sobre sua existência e dos que o cercam. O filme é lindo e emocionante. O “espírito do Natal” esta presente, fazendo do filme uma oportunidade para todos nós repensarmos nossas vidas e o que temos de maravilhoso nos cercando.
Bem apropriado para esta época de festas.

UM LIVRO:
Um Conto de Natal   
de Charles Dickens,  1843

Scrooge é um homem avarento que detesta o Natal. Vive só, em seu escritório em Londres. Na véspera de natal ele recebe a visita de Jacob Marley, seu ex-sócio que já morrera. Marley diz que ele pode encontrar a paz através dos espíritos dos natais que o visitarão (passado, presente e futuro). As visitas dos três espíritos se sucedem.
Scrooge conhece a face da ignorância e da miséria e a possibilidade de compreender o “espírito de Natal”.
Nada mais popular no Natal do que este conto de Dickens. Filmes como Expresso Polar, Shrek, a Disney com o Tio Patinhas e até a Barbie usaram este enredo. É um pequeno livro, um clássico que merece ser lido particularmente neste período em que planejamos mudar comportamentos e fazer novos pactos de vida.
 "O Natal é um tempo de benevolência, perdão, generosidade e alegria. A única época que conheço, no calendário do ano, em que homens e mulheres parecem, de comum acordo, abrir livremente seus corações."
Charles Dickens