quinta-feira, 18 de outubro de 2012

EM DEFESA DO MAGISTÉRIO.

 Dra Adriana Oliveira Lima
Embora eu tenha criticado duramente os professores descompromissados com a educação, minha experiência foi, quase sempre, povoada de pessoas envolvidas em sua profissão, com sede de saber, estudando e discutindo a educação na prática diária. É preciso defender mesmo toda esta categoria de profissionais que tem em suas mãos grande parte do futuro de uma nação.
O Brasil tem quase 2 milhões de docentes na educação básica, da educação infantil até o ensino médio. Esse contingente de profissionais é responsável por mais de 52 milhões de alunos. É incrível a melhora na formação deste contingente, diminuindo o contingente sem diploma superior nas escolas de educação básica do país. Hoje, eles representam 25% do total, sendo que antes, em 2007, somavam mais de 30%. 
Quanto ao salário, o Ministério da Educação divulgou o novo valor do piso salarial nacional para os professores de educação básica em R$ 1.451. O novo valor se refere ao mínimo que deve ser pago para professores com jornada semanal de trabalho de 40 horas.
Como ilustração, citaremos alguns profissionais melhor remunerados que exigem níveis de formação menores que um professor: A Prefeitura do Rio anunciou um pacote de benefícios para os servidores da Guarda Municipal e para funcionários da Comlurb (limpeza urbana). Um piso salarial no valor de R$ 729,58 com um plano de carreira garantindo aumentos a cada dois anos. Um gari com mais de 10 anos de serviço, por exemplo, terá 23,20% de aumento.   O tíquete-refeição destes servidores, com o aumento de 2012, de 33%, subiu de R$ 9 por dia para R$ 12, alcançando um total de R$ 360 por mês.
Associações ligadas ao Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro vão apresentar reivindicações de um piso salarial de R$ 2.900 para a categoria e também para policiais militares. Um bombeiro  no Brasil ganha aproximadamente entre 1.220 e 3.500 (Brasília).
Nem precisamos citar a aberração do dinheiro gasto com a câmara federal, onde levantamento feito pela ONG Transparência Brasil revelou que o Congresso Nacional tem o custo mais alto para a população em comparação com parlamentos de 11 países. De acordo com o estudo, o congresso brasileiro gasta R$ 11.545,04 por minuto com os 513 deputados e 81 senadores. http://www.youtube.com/watch?v=fU8W79GmgSc
Fosse apenas o salário talvez fosse mais fácil tentarmos mudar esta realidade, mas existem muitas outras questões. Entre elas, está a questão do desrespeito ao professor. Houve um dia em que ao entrar em sala o professor era recebido pelos alunos de pé com um sonoro BOM DIA! Houve um tempo em que as palavras do professor tinham valor inestimável para os pais. Houve um tempo em que o professor era respeitado socialmente.
Hoje quase 20% dos professores da rede básica de ensino do estado de São Paulo sofrem de depressão. O dado foi revelado pelo levantamento A Saúde do Professor na Rede Estadual de Ensino, feito pela Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) em parceria com o Dieese. (http://noticias.r7.com/educacao/noticias/quase-20-dos-professores-de-sao-paulo-sofrem-de-depressao-20121002.html)
Deprimidos, cansados e sem esperanças, muitos professores não conseguindo migrar para outras profissões e terminam tentando licenças infindáveis.
Além das más condições de trabalho e baixos salários, enfrentamos agora um escandaloso desrespeito da parte dos próprios pais que autorizam a agressividade dos filhos em sua relação escolar.
São ameaças contínuas das comunidades e dos alunos. Não tem idade. Uma criança de 8 ou 9 anos pode ameaçar um professor ou demonstrar insatisfação por seus desejos frustrados. Pais imbuídos de um estado de recursos aproveitam-se da fragilidade da educação para descarregar penas e dores de suas frustrações da vida cotidiana. Vão facilmente às delegacias e abrem processos. Reclamam e constrangem professores e escolas sem medida ou bom senso.
Adolescentes ou mesmo crianças insistem em andar com celulares na escola com a autorização dos pais que certamente não aceitariam ser vigiados em suas profissões por crianças e adolescentes. Mas os professores podem sofrer todo tipo de constrangimento. Escândalo na porta da escola, agressividade nas secretarias, recados desaforados através das crianças...
Hoje, ser professor é um ato heroico.
Como mudar esta realidade?
Que seja tudo isso já o fundo do poço, para começarmos a reconstruir uma profissão e como fênix, ressurgirmos das cinzas.



Dra Adriana Oliveira Lima

Nenhum comentário: