quinta-feira, 6 de outubro de 2011

UMA INTERPRETAÇÃO DO DISCURSO DE STEVE JOBS


Breve homenagem

Dra. Adriana Oliveira Lima



Um grande amigo meu, após uma boa discussão sobre o artigo-discurso do Steve Jobs, me sugeriu um “Steve Jobs, parte II”. Teria o discurso de Jobs suscitado a hipótese de que ninguém deveria se formar nas universidades? Que pensamento torto seria este, uma vez que o discurso era proferido exatamente em uma cerimônia de formatura da universidade de Stanford, em 2005?

Primeiro, creio que Steve Jobs queria falar do que é próprio na vida de cada indivíduo e de como as opções que fazemos vão resultando e dando sentido ao que nos tornamos. O que somos em cada momento é a resultante de teias de escolhas que se ligam e se definem em diferentes direções. Em nenhum momento Steve Jobs diz que sua vida é o modelo para todos. Ele apenas mostra suas escolhas e contingências e como elas acabaram por levá-lo na direção do que foi sua vida.

O que Steve Jobs parece apontar é a extrema burocracia que conduz a vida de quase todos nós, que acaba fechando as portas para possíveis alternativas e voltas no caminho da vida. Precisamos estar de olhos bem abertos para as escolhas que fazemos e para os pontos que se costuram num futuro logo ali adiante.

“Conectar pontos” significa que decisões tomadas aqui ou ali se costuram em um futuro totalmente imprevisto. Mas a maioria de nós está procurando por certezas. Nesta busca, repetimos o que supomos ter sido bom para nós mesmos. Tentamos reproduzir em nossos filhos a nossa existência (pretensamente bem sucedida), jogando para baixo do tapete nossas frustrações, medos e dores. Parece-nos melhor reproduzir aquilo que conhecemos do que nos arriscar no desconhecido.

“Viver cada dia como se fosse o último”. Não significa sair todos em uma busca frenética, mas apenas que amássemos o que estamos fazendo, que olhássemos para cada gesto, que tivéssemos uma existência intensa no que fazemos.

Tive uma empresa que me foi arrancada com a violência das ambições humanas. Sofrer a dor da perda e encontrar nesta dor o broto de uma nova história é o que nos ensina a segunda história de Steve. “Foi um remédio horrível, mas eu acho que precisava dele. Algumas vezes a vida acerta você com um tijolo. Não perca a fé. Eu estou convencido que só uma coisa me manteve no caminho: eu amava o que fazia”. Pode ser necessário sair de um mundo onde, devido a imersão, não somos capazes de enxergar. Saindo da caverna de Platão encontramos a luz. A luz de uma nova realidade que se mostra e se refaz. Recomeçar porque estamos impregnados de amor pelo que fazemos. Tudo recomeça sob novas luzes.

Enfim, sua terceira história é sobre a morte e a forma como vivemos a VIDA. Como a morte pode ser o renascimento, a abertura para novas formas de vida e de existência. Sem temer a morte podemos amar a vida e amarmos também o próximo, nosso trabalho, as pessoas e ideias que nos cercam. A vida só pode ser valorizada no contexto da compreensão da inevitabilidade da morte.

Saudades.

Um comentário:

Cibéria de Sousa disse...

Você conseguiu sintetizar de forma sensível e realista tudo o que penso que seu discurso tentou mostrar, a vida é mesmo assim nos mostra caminhos e posteriormente vitórias, muitas vezes através da dor.