sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O PONTO FRACO DO ENSINO FORTE






O PONTO FRACO DO ENSINO FORTE
Como este assunto foi abordado sucessivas vezes por nós em diversos artigos, sugerimos a todos a leitura do artigo de capa da revista Época desta semana (01 a 07 de agosto de 2011) com o título acima, sobre o qual ressalto os seguintes tópicos:

1- O desejo de ser “invisível” não é apenas da criança citada, mas de milhares de outras crianças que gostariam de não ser vistas. Lembro-me da “Escolinha do prof. Raimundo”, onde um personagem costumava dizer: “Ah meu deus do céu, já me descobriu eu aqui”.

2- As boas colocações em vestibulares podem ter um custo muito alto, incompatível com a vida moderna. Passar no vestibular não garante sucesso profissional e ainda pode deixar marcas emocionais (medos, inseguranças e raiva).

3- Este modelo de escola do século XVIII, representada por nossa educação tradicional, supervaloriza o acúmulo de conhecimentos, embora o mesmo não tenha caráter permanente, sendo esquecido logo após o vestibular, deixando o espírito vazio.

4- Está em alta no mundo este modelo tradicional de educação porque os pais, com menos filhos e mais comprimidos em pequenos espaços, perderam a autoridade sobre seus filhos, que ficam à mercê do social, da violência e das drogas, lavando os familiares a recorrerem ao autoritarismo imposto por terceiros, no caso, a escola.

5- Os pais fazem sua opção apoiando esta escola que pressiona a criança e destrói seus processos de autonomia e de criatividade. Vemos minguar os alunos das escolas pequenas, alternativas e com metodologias mais sofisticadas, diante do crescimento da “educação de quadro e discursos”, ministrada a dezenas de crianças numa mesma sala.

6- Quando a reportagem diz que cresce no “primeiro mundo” esta visão autoritária de escola, esquece que as escolas na Inglaterra ou Estados Unidos são altamente equipadas e com professores mais bem formados academicamente. Uma sala de aula na Inglaterra não tem ponto de identidade com as salas de aula do Brasil.

7- Quando os pais escolhem as escolas em que estudaram para colocar seus filhos, isso não significa reconhecer a competência social da escola. Antes, isso representa seu próprio medo de arriscar, sua incapacidade de empreender, de diferenciar-se, de criar novidades e agregar-se à evolução social. Agarrar-se ao conhecido é um padrão comportamental e não significa uma escolha consciente.

8- As escolas que selecionam a entrada de alunos são de fato competentes porque o aluno selecionado é competente. Em 1992, em minha tese de mestrado, fiz um capítulo de pesquisa mostrando que a competência de algumas escolas não está nela, mas no aluno que a frequenta. A qualidade só é reconhecida quando se atinge padrões bons em um grupo mais amplo de alunos (não nas elites).

9- A dificuldade dos pais em conhecer e determinar o perfil de seus filhos é imensa. Basta olharmos para a total incapacidade em reconhecer dificuldades de aprendizagem. Qualquer profissional escolar sabe o quão tarde os pais procuram atendimento especializado para seus filhos. Ninguém quer aceitar ter um filho que precise de atenção especial.

10- Os sintomas, cada vez mais comuns, mostram que está se criando uma geração de crianças com medo, inseguras, assustadas e nervosas, que se sentem incompetentes. Os consultórios vão se enchendo e as pequenas escolas vão recebendo cada vez mais crianças “ditas” com dificuldades de aprendizagem.

11- Todo este sufoco no sistema tradicional não garante o sucesso e o que é pior, não garante sequer a aquisição do conhecimento. Se fizermos uma prova de conhecimentos gerais após dois anos de ensino superior, quando está consolidado o esquecimento, o fracasso seria estrondoso. Cada um dos leitores deste artigo deve se perguntar o que sabe de história, geografia, química, de orações subordinadas ou de logaritmos, e verão o quanto a escola marcou sua memória e lhe transmitiu conhecimentos ou conteúdos verdadeiramente.

12- Pessoas bem sucedidas podem vir de escolas alternativas. O que é mais comum é ter egressos deste tipo de escolas alternativas mais bem sucedido. Isto porque hoje a sociedade necessita, cada vez mais, de tomadas de decisões, empreendedorismo, versatilidade e habilidades diversificadas. O mundo moderno precisa cada vez mais de pessoas com estas características que são mais trabalhadas em pequenas escolas alternativas e totalmente esquecidas nas grandes escolas tradicionais, sempre preocupadas com conteúdos rígidos.

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