UMA TOLICE
MONUMENTAL
A TRISTE MORTE DAS ESPERANÇAS NA EDUCAÇÃO
BRASILEIRA
Dra Adriana Oliveira Lima
Duas propagandas. Uma dizendo que o Ceará
se tornou referência de educação para o Brasil. O segundo que vão ensinar não só
a leitura, mais as quatro operações até os 8 anos de idade.
No começo da visão destas propagandas me sentia zangada, passei para
vergonha alheia e agora tristeza.
Primeiro por ver esta insistência de
Cearense querer ser superior (no fundo um complexo atávico de inferioridade).
Digo isso porque de sã consciência ninguém
vai acreditar que qualquer parte do sul do país poderia considerar a educação
cearense como referência (até porque não esta nem perto de ser modelo para si
mesmo).
Segunda tristeza e a pior de todas é ver que após 50 anos
da obra de Piaget esta ai disponibilizada em
todo tipo de interpretação e versão, mas sempre mostrando os estágios do
desenvolvimento, o governo federal diga em público que vai ensinar as quatro
operações matemáticas para as crianças brasileiras
até os 8 anos de idade. Não fosse esta uma tolice MONUMENTAL poder-se-ia dizer
tratar de uma robusta demonstração de ignorância, de falta de estudo e leitura.
Se para aquisição da leitura podemos ter
uma elasticidade de efetivação entre os 6 e os 9 anos, a questão da matemática
já tem sua elasticidade inserida em outro momento do desenvolvimento. Até os 8
anos a criança esta habilitada cognitivamente para aquisição das operações
aditivas, permanecendo ainda esperar um pouco para fechar sua ação inversa, a
subtração.
Piaget mostra em pelo menos três livros,
mais que leiam pelo menos “A Gênese do Número na Criança”, que as operações
multiplicativas (todos e alguns, multiplicação das classes, ordem e número) só tem inicio aos 9 anos chegando ao
seu ápice, aos 11 ou 12 anos a divisão e a fração. Assim sendo a falácia verborreica
das propagandas políticas são indecentes ao propor o evidente fracasso.
Sabe quando o Brasil vai melhorar a
qualidade da educação do país¿ Quando parar de avaliar o que não faz, e FAZER o
que imagina um dia ser avaliado. Fazer mais, ensinar mais e avaliar menos.
Vamos estudar pessoal, vamos construir currículos
plausíveis, adequados ao desenvolvimento das crianças. Vamos parar com a
politização da educação, vamos deixar os cargos nas instituições de educação a
cargo de educadores, vamos utilizar materiais competentes e não o que maior
propina oferecer (acabar com a máfia editorial no país). Vamos parar de roubar
até a merenda das crianças.
Vamos parar de aparelhar, de defender indecências
para manter empregos e um dinheirinho extra. Vamos descentralizar a educação e
repassar os recursos de forma que os salários possam aumentar substancialmente.
Pois é, pelo que se tem de fazer fica óbvio
que nada mudará. As propinas continuarão, os medíocres continuarão dizendo
tolices e os educadores calarão para manter seus empregos.
Um comentário:
Como sempre, uma análise pra lá de sensata do que julgamos ser uma educação “paidégua". Pra quem se encanta com uma dúzia de nomes que enfeitam as listas de alunos ganhadores de troféus (sempre os mesmos!) vide a lista nada ilustre dos alunos que ficam a margem, maioria esmagadora, condenados `a recuperação em um sistema que em si parece irrecuperável. Então, fazemos de conta que o garoto e a garota na foto de página inteira do jornal, premiados em olimpíadas acadêmicas, nos representam, assim como fingimos que nos representa a educação brasileira, considerada “mais puxada” de que em certos países de primeiro mundo. Faço minhas as palavras de uma terceira Adriana, a Calcanhotto: “Eu gosto dos que têm fome, dos que morrem de vontade, dos que secam de desejo, dos que ardem”; fome de aprendizagem significativa, de descobertas, de capacidade de se maravilhar e transformar- estes, sim, me representam.
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