domingo, 11 de setembro de 2011

NEGLIGÊNCIA INVOLUNTÁRIA


Dra. Adriana Oliveira Lima


O nascimento de uma criança deficiente traz muitas complicações para a família, como a negação, a rejeição ou a culpa. Estas são reações comuns. O mais grave é quando a necessidade especial da criança não tem uma “visibilidade” óbvia (deficiências físicas, síndrome de down, etc.) deixando os pais sem tomar providências que poderiam ajudar suas crianças a se desenvolverem por anos. Essa é uma forma inconsciente de negligência.

As formas de negligência com as crianças são tantas que daria para escrevermos uma tese de pesquisas apenas sobre suas formas e manifestações. Eu gostaria de abordar aqui um tópico apenas: a “cegueira” dos pais quanto ao desenvolvimento de seus filhos.

Em muitos artigos de revistas de grande circulação vemos abordadas questões de dificuldades de aprendizagem (dislexia, disgrafia, descalculias, etc.). Em muitas dessas reportagens os pais alegam só terem percebido a dificuldade do filho após 9 anos (alguns somente na adolescência!!!). Tal fato só pode ser justificado por um alto grau de inaceitação e/ou rejeição. As pessoas não querem ter filhos com dificuldades. Se essas dificuldades forem comportamentais, então são absolutamente inaceitáveis, pois os conduziria à área da psicologia, que ainda é vista como “coisa para malucos”.

Cria-se uma guerra entre a escola, que tenta mostrar as dificuldades da criança e pedir auxílio, e os pais, que tentam escondê-las ou justificá-las. Os pais atribuem as dificuldades de seus filhos à “preguiça” ou à identidade com algum parente “que também era assim”. Para completar, encontramos uma resistência por parte de profissionais da área clínica (fonos, psicopedagogos, psicólogos, neuropsicólogos, entre outros) em fazer diagnósticos.

Assim, a lentidão em assumir as necessidades especiais da criança leva ao atraso e a dificuldades muito concretas no desenvolvimento da mesma. Ouvimos todos os dias, na medicina principalmente, que quanto mais cedo se diagnostica um problema, mais chances temos de cura ou melhora. Os pais, no entanto, adiam ao máximo um diagnostico ou o tratamento, perdendo as melhores janelas para o desenvolvimento de seus filhos.

Clínicas de estimulação para crianças com necessidades especiais não seriam bem sucedidas por aqui. Muitos pais jamais enxergam os progressos das suas crianças, por jamais enxergar as necessidades especiais das mesmas, para começar. Eles não respeitam o “tempo” de desenvolvimento de cada criança e suas diferenças e, tão logo percebem progressos, tratam de modificar todo o seu cotidiano, julgando-as “curadas”. Colocam suas crianças em situações adversas, na tentativa de torná-las “IGUAIS” às outras. A criança com necessidades especiais geralmente anda de escola em escola procurando ser reconhecida não por sua diferença, mas por suas imitações de igualdade, e isso é um grande desperdício de oportunidades para o desenvolvimento pleno das mesmas. Reconhecer suas limitações é o primeiro passo para a superação de suas dificuldades.

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