sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Meninas, bonecas e misses.


Dra Adriana Oliveira Lima






A americana Kerry Campbell foi manchete do tablóide The Sun ao aparecer fazendo aplicações de botox em sua filha Britney, de 8 anos, em fotografias repugnantes e em entrevistas reproduzidas no youtube.

(http://www.youtube.com/watch?v=auzvSkIk7xg)

Historicamente predominaram as bonecas que reproduziam bebês, com a hipotética função de “preparar” as meninas para seu futuro papel de mamães, sendo, no entanto, o objeto de imitação social da relação entre as mães e as filhas. “Mãezinha” e “Amiguinha” eram o sonho das crianças nos anos 50 e 60 no Brasil.

Eis que aparece a “Barbie”. Encomendada ao designer Jack Ryan, em 1958, a boneca foi lançada oficialmente na Feira Anual de Brinquedos de Nova Iorque, em março de 1959. Com seu grande sucesso de vendas, a boneca passou a refletir os comportamentos de uma época renovando-se constantemente para acompanhar as mudanças sociais das últimas quatro décadas.

A Barbie tornou-se um símbolo de beleza e moda. Ela tem namorado, carro e escritório. Ela faz ginástica e está sempre na última moda, seja nas roupas, sapatos ou cabelos. Ela é rica e famosa. O mundo Barbie é um mundo em cor-de-rosa. Ele remete aos sonhos e fantasias das meninas. O interessante é que Barbie não tem amigas, vive apenas entre posses e desejos.

Em sucessivos visuais, Barbie identifica-se com os anos 70 (hippie), com o glamour dos anos 80 das “Panteras”, os “gliters” e as transparências. Veio o mundo dos negócios e, com ele, o glamour das roupas de festas.

Esta radical mudança nas bonecas inaugura uma era de sexualização precoce das crianças. Além disso, essa mudança reflete os fúteis objetivos que respondem mais aos desejos das mães que das próprias crianças. A boneca agora é o modelo a ser imitado e não o objeto de resoluções afetivas entre mães e filhas. E embora triste, a verdade é que o objeto para a menina imitar é uma mulher de seios, com mais de trinta anos, sexualizada e com um corpo delineado refletindo “desejos” adultos.

Pesquisas acadêmicas afirmam:

“Todas as crianças entrevistadas gostariam de ser como ela. O motivo alegado para isso, que aparece com mais freqüencia, é relacionado à beleza da boneca.”

(Valentim, Mônica Geraldi; Bomtempo, Edda.)

As mamães, que também brincaram com a Barbie, não se apercebem da exposição a que estão colocando suas meninas. Compram pinturas, sapatos de saltos e roupas sexualizadas. Quando as crianças brincavam com saltos, colares e batons, elas de fato imitavam “suas mães”. O modelo exteriorizado, representado pela boneca Barbie, passa a conduzir ao exagero e a criar referências intoleráveis de “magreza”, glamour, superficialidade e futilidade.

As mamães, que teriam o dever de intervir, impor limites e assumir a condução da educação de suas filhas, acabam colaborando com a exacerbação do fútil, que termina nas misses e nos sonhos de “top model”.

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