terça-feira, 2 de novembro de 2010

Escolhendo Escola para os filhos

Neste período as escolas, revistas e jornais publicam sucessivas matérias falando sobre a escolha da educação que se quer para os filhos. O que fazer frente a tamanho assédio de informações? Fico olhando em volta e me perguntando até quando o Brasil permanecerá na mania discursiva já tão magistralmente descrita pelo grande Anísio Teixeira. Vejamos em nosso sistema educacional o que devemos considerar ao escolher e analisar escolas para nossas crianças e jovens.

PARA ESCOLHER UMA ESCOLA
1- Não matricule sua criança tendo como critério a proximidade da escola em relação à sua casa. Não estamos no primeiro mundo onde as escolas se equivalem. O melhor pode ser mais distante. Você esta escolhendo não um simples lugar para deixar seu filho, mas um lugar que pode determinar grande parte do que ele será no futuro. Como fazemos com o médico, procuramos onde está o melhor.
2- Não se apoiar na grandiosidade dos aspectos físicos da escola. Quase sempre escolas com grandes estruturas físicas têm também muitos alunos e quando se divide o tempo escolar pelo número de alunos, descobrimos que nossa criança não usará esse benefício.
3- Lembre que a escola deve ser um lugar INTIMISTA. Mais de 20 alunos na sala de aula inviabiliza qualquer boa intenção pedagógica – basta que se divida o tempo escolar pelo número de alunos e estabeleça um tempo de 2 minutos, por exemplo, para cada criança se expressar. É possível ver que não haverá opinião alguma formulada e emitida pela criança, menos ainda a possibilidade de todos se expressarem.
4- Ao visitar a escola, exija uma explicação de tudo que a escola diz fazer. É importante saber os meios através dos quais os objetivos definidos pela escola são realizados. É muito fácil listar belos objetivos como o desenvolvimento do espírito crítico, a criatividade ou a cidadania, difícil é desenvolver uma metodologia capaz de dar conta dos mesmos efetivamente na prática diária escolar.
5- Não aceite uma escola onde é comum o aluno ter “reforço escolar”. Estas escolas são as que menos assumem sua responsabilidade sobre a aquisição do conhecimento por parte de seus alunos.
6- Não confie em materiais físicos como o livro didático, a apostila ou joguinhos. Para usar bem um material e usar jogos como recurso didático o professor deve ser continuamente capacitado e conhecer seus objetivos e metodologias. O jogo pelo jogo ou o livro pelo livro não são suficientes no processo pedagógico – o professor e o domínio metodológico dos mesmos são fundamentais.
7- Procure saber a formação das pessoas que vão lidar com as crianças. Quais as habilidades técnicas das pessoas que dirigem sua escola, quais suas experiências de vida ou suas referências teóricas e sociais. Ter uma metodologia clara, saber o rumo que a escola deve tomar e ter firmeza nos valores e ideais é fundamental para a formação do caráter das crianças. Os adultos são modelos. A moralidade é uma existência e não um discurso.
8- A escola tem que ter VASTO material concreto como as escolas em TODO o primeiro mundo. É inaceitável uma escola com carteirinhas coloridas, giz e quadro. A criança e o jovem precisam de materiais concretos em TODAS as áreas do conhecimento.

9- A liderança da escola deve dominar conhecimentos culturais básicos de todas as áreas. Pergunte que cursos ou congressos o staff da escola participou ou que livros têm lido. A formação continuada é fundamental na pedagogia.

10- O tamanho da escola: Uma criança só pode aprender a ser crítico se tiver espaço, tempo e liberdade para se expressar. Um aluno só pode aprender quando o educador o conhece. O educador deve conhecer não apenas o seu desempenho intelectual por meio de provas e trabalhos, mas também seu lado social, afetivo. O jovem só pode tornar-se um cidadão se tiver um ambiente propício e acolhedor para se sentir seguro na árdua tarefa de expressar suas opiniões e tornar-se responsável por suas escolhas. Para tudo isso se realizar, uma escola não pode ser grande, não pode comportar centenas e centenas de alunos, pois em tal ambiente o conhecimento de cada um deles será sempre periférico e superficial e jamais será propício para o pleno desenvolvimento das capacidades cognitivas, sociais e morais dos seus filhos.

Um comentário:

Adriana Oliveira Lima disse...

Muito bom ler uma defesa de uma escola de verdade. Um pouco de reflexão sobre a grandiosidade de prédios e multiplicidade de informações vazias e rasas. Apenas uma turma relativamente pequena é ambiente em que o professor possa olhar o aluno nos olhos e ouvi-lo de modo dialógico. Longa vida para as escolinhas, longa vida para a honestidade de propósitos de Educadores com espírito fiel à Educação maiúscula!
Prof. Dr. Irineu E. Jones Corrêa
Pesquisador
Fundação Biblioteca Nacional