Saber quem somos e tomar consciência de nossa realidade é o primeiro movimento na direção da melhora, do crescimento e da superação. No resultado do Enem, nenhuma escola cearense ficou entre as 100 melhores. E olhem que o critério deste “ranking” absurdo é corroborado por quase todas elas. Aquelas consideradas as “melhores escolas”, “sonho de consumo” de considerável número de famílias cearenses, ficaram lá pelas 400º e tanto... Será que alcançamos o fim do mito de que o Ceará tem as melhores escolas do Brasil e começamos a pensar seriamente na qualidade do nosso ensino? Se o que estivesse em jogo fosse a aprovação ou reprovação, o Ceará estaria reprovado!
O Enem "reprova" 63,64% das escolas; 99% delas são públicas. Em 1992, em minha tese de mestrado, realizei uma pesquisa com provas de crianças do ensino básico de escolas privadas e públicas e entre as análises de dados feitas, foi possível mostrar como estes sistemas são idênticos. A diferença está no aluno que frequenta cada uma destas escolas (pública ou privada).
Oito em cada 10 escolas ficaram abaixo da média no ENEM e, das 20 melhores, 18 são privadas, o que poderia levar os mais ingênuos a supor que a rede privada seria melhor. É possível dizer que o desempenho da rede pública piorou em relação a 2009, mas o que esta em jogo é a proposta pedagógica, vez que as instalações e o número de alunos por sala são bem similares nos dois sistemas (mais de 40 alunos por sala, quadro, discursos e provas).
Pobres crianças e pobres pais que correm atrás de “Rankings”, este ridículo instrumento de discriminação que é um fracasso cada vez mais obvio até mesmo nos Estados Unidos e demais países desenvolvidos, que passam por uma profunda crise na educação.
Dizer que “os alunos do ensino médio público teriam de estudar mais dois anos para ‘alcançar’ os colegas da rede particular de ensino” é supor que o tempo, por si só, é capaz de qualificar a educação... Ora, pode-se ficar 24 horas fazendo bobagens!
Afirmações como: “Nossos simulados são mais difíceis que muitos vestibulares” ou “uma nota cinco aqui é dez em outro colégio” são tão antigas que chegam a doer. Quem não ouviu estas afirmações de escolas “fortes” e “fracas”?
O rigor acadêmico e o regime integral do São Bento, a escola carioca que ficou na primeira colocação do ranking do ENEM, não é o indicador de sua qualidade. Poderíamos dizer que a chave de seu sucesso estaria na seleção elitista feita por ela para aceitar alunos, que provavelmente seriam um sucesso em qualquer outra escola. Incrivelmente, tem gente bem sucedida oriunda de tudo quanto é escola! E com uma mensalidade de até R$ 2.140 mil, pode-se dizer que este aluno tem uma preparação social que ultrapassa o “rigor” e a qualidade da escola.
O Colégio de Aplicação no Rio é mais honesto em sua análise, quando afirma:
“Outra diferença é que, em muitos casos, os colégios de aplicação selecionam seus alunos por meio de uma prova, já que a procura é maior do que a oferta de vagas. Nesse caso, o próprio corpo discente já tem um nível mais alto do que em uma escola comum, que não escolhe os alunos que serão matriculados.”
A diferença entre a rede pública e a particular não é um desafio de compreensão para o sistema de educação brasileiro. Comecemos analisando a diferença entre os alunos para repor na rede púbica o que o a criança e o jovem da rede privada tem:
Tem viagens, tem jogos, tem livros, tem teatros, tem cinema, tem refeições ricas e fartas, tem brinquedos, tem tecnologias, tem atenção, tem médicos, flúor e dentistas, e tantas coisas. E nos perguntamos como pode a escola privada, com tantas vantagens em sua clientela ser tão incompetente e não ensinar quase nada a nossas crianças.
PS. Devemos lembrar ainda que as escolas de São Paulo não estão representadas nesse ranking, pois as grandes universidades paulistas não adotam o ENEM. Por isso o resultado paulista é tão fraco. Fosse o ENEM adotado em São Paulo e suas escolas e alunos participassem do mesmo, o resultado das escolas cearenses seria ainda mais trágico!
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