segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A LINGUAGEM ESCRITA: ORTOGRAFIA E CRIATIVIDADE




Pais e professores costumam ter um "olhar ortográfico" sobre os trabalhos escritos da criança. Mesmo as mais jovens, na primeira ou segunda série, têm seus textos analisados pelo "susto" que seus erros ortográficos provocam nos adultos. Entretanto o olhar do adulto deveria centrar-se na originalidade, no volume de escrita, na criatividade e na logicidade dos textos produzidos pelas crianças. A criança, por seu lado, deve sentir total liberdade para expressar seus sentimentos e deixar fluir sua imaginação com espontaneidade.

Fazer ditados e riscar de vermelho os erros das crianças não contribuem para a melhora ortográfica. As escolas conseguem apenas reduzir o vocabulário usado pela criança restringindo seus textos de tal forma que conseguem uma "aparente" boa performance ortográfica. Se pedirmos, entretanto, que escrevam de forma livre e sobre temas mais complexos (tempos verbais não usuais) percebemos o limite alcançado por esta metodologia.

Se a professora dá maior ênfase aos erros cometidos pela criança, nestes primeiros momentos, termina por tirar-lhe a espontaneidade, provocando o empobrecimento intelectual da linguagem, que vem dificultando a aparição de escritores brasileiros. Os alunos nas nossas universidades recusam-se a escrever, copiam quase tudo, não formulam conceitos, não emitem opinião... Não fossem os livros didáticos, estaríamos entre os países mais pobres em quantidade de títulos publicados.

A correção ortográfica será progressiva, sendo grande parte alcançada pela "tomada de consciência", possível com a maturidade intelectual, e também pela leitura, que marcará a gestalt das palavras. Para tanto é necessário formar leitores. Pode-se também, como fazemos desde cedo em nossa escola, melhorar a linguagem falada, pois uma boa pronúncia das palavras resultará em considerável melhoria na escrita. Por fim, pode-se fazer aos poucos correções por meio de pesquisas, dicionários, jogos e a "tomada de consciência" sobre os textos produzidos, quando as crianças alcançam o 4º e 5º ano.

Não podemos esquecer, entretanto, que cada ação deverá estar adequada ao nível de desenvolvimento da criança, vez que muitas das convenções não são passíveis de ser aprendidas em qualquer momento, sendo, assim, necessário trabalhar o "possível" em cada estádio do desenvolvimento.

É necessário corrigir progressivamente os textos das crianças de forma que um dia elas sejam capazes de dominar de forma superior sua língua. Lembramos, no entanto, que a ortografia, como o cálculo, é uma atividade inferior da mente, sendo mesmo possível transferi-la para as máquinas (calculadoras e computadores). Assim, deve-se trabalhar a originalidade e a logicidade na escrita, características unicamente humanas, intransferíveis para uma máquina, e sermos mais pacientes com os erros ortográficos e em esperar a construção da escrita formal das crianças.

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