sábado, 12 de janeiro de 2013

A FALTA E A PERDA



Dra Adriana Oliveira Lima


 Crianças precisam de frustrações
 

Muitas vezes aparecem fotos de crianças sem braços ou outras anomalias no Facebook tentando nos alertar sobre como somos sortudos e como deveríamos ser felizes por não termos tais dificuldades - explorando o desespero de imaginar-se em tais situações. Primeiro devemos ter a clareza de que existem duas circunstancias distintas neste contexto.

Primeiro, as pessoas que já nascem com as deficiências. Estas não sofrem como imaginamos ao vê-las em tal situação.  Não podemos sentir falta do que não conhecemos. Assim, uma criança que nasce sem braço ou cega não faz ideia de como seria sua vida de outra forma. Quando pesquisas e próteses lhes dão maior mobilidade e possibilidade de inclusão social, essas configuram-se como “upgrades” em suas vidas. O desejo de ter o outro braço ou enxergar se configura no âmbito do desejo de “ser igual” e não no âmbito da necessidade (desejo que vem do verbal e do imaginário e não da prática social).


Segundo, analisar o que de fato traz o sentimento de PERDA. Ter e perder é um grande desafio humano e isto serve para todos os sentidos de perda. Perder a visão, um braço, dinheiro ou um amor leva os sujeitos a um processo de sofrimento ou mesmo de luto, muitas vezes insuperável (depressões profundas, suicídios). É grande a diferença entre a “falta” e a “perda”.
Podemos sentir inveja e falta de algo, mas não sabemos absolutamente como seria tê-las se nunca a tivemos. Se tivermos e perdermos, este será um sentimento infinitamente mais preciso, fonte de desesperos e adaptações complexas.


Devemos nos preocupar com a educação das crianças. Deixar os desejos aparecerem. Frustrá-las, isto é, mostrar que não podem ter tudo o que querem, não podem ter todos os seus desejos satisfeitos. A criança que recebe um NÃO, que é contrariada em algumas de suas vontades, aprende passo a passo a fazer adaptações e ajustes que lhes serão fundamentais no processo vital. Terão maior mobilidade e capacidade de enfrentar os reveses que a vida impõe a todos.